Rosana Marques, proprietária da OuseUse Lingerie, é finalista do 18º prêmio Claudia
As duas principais ruas da mineira Juruaia, de 9,8 mil habitantes, mostram a garra do empreendedorismo feminino. Lá estão 160 confecções – 95% nas mãos de mulheres –, que produzem 15% da lingerie brasileira. Terceiro maior polo fabricante de peças íntimas do país, a cidade só perde para Fortaleza e Nova Friburgo (RJ). São 580 mil peças vendidas por mês. A cada ano, 90 mil pessoas visitam a cidade à procura de calcinhas, sutiãs e camisolas para revender em todo o país. Esse poder de fogo, no entanto, é relativamente novo. Nos anos 1990, um pequeno grupo transformou o município, depois que a monocultura do café caiu em crise. Era a zona rural que absorvia quase toda a mão de obra local. Por todo canto, havia queixa de desemprego e fome.
A professora do ensino fundamental Rosana Marques, 50 anos, teve papel fundamental na virada, alavancando os ânimos e os negócios. Em 1994, ela contratou duas costureiras e começou a produzir lingerie no fundo do seu quintal. Algumas mulheres fizeram o mesmo. Rosana percebeu que isso era bom:“Quem virá de longe a uma cidade desconhecida comprar em três ou quatro empresas?” Ela começou a incentivar boias-frias e mulheres de pequenos agricultores, que haviam falido, a também criar suas confecções. Logo, o grupo atraiu o Sebrae e outras instituições que ensinaram a desenhar, cortar, estruturar melhor as peças e vender.
Em 1996, as mulheres ajudaram a fundar a Associação Comercial e Industrial de Juruaia, com Rosana na presidência. Dois anos depois, ela teve a ideia de criar a Felinju, feira anual com ousado desfile de modelos vestindo underwear, hoje na 16ª edição. “Foi um divisor de águas”, afirma. “Atraímos atacadistas, revendedores e curiosos do país todo.” Na sequência, veio o Festlingerie, que, em setembro, lança a coleção primavera verão, e a Outlet Juruaia, megaliquidação em janeiro. Na contramão do individualismo empresarial, Rosana viu a cidade natal florescer. Hoje, o Produto Interno Bruto cresce 30% ao ano e até falta mão de obra. Sua OuseUse é exemplo do novo cenário: em 800 metros quadrados, produz 70 mil peças por mês; emprega 80 pessoas – e, indiretamente, outras 100. Em 2012, Rosana fundou a Câmara da Mulher Empreendedora para azeitar ainda mais os negócios.
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