Imagine o seguinte cenário: uma pequena cidade em meio à mata Atlântica, com 9,8 mil habitantes, no sul de Minas Gerais. Um município típico do interior mineiro: a igreja é o prédio mais alto e as ruas são de paralelepípedos. Todos se cumprimentam, pois como toda cidade pequena, as pessoas se conhecem com certa intimidade. Em suma, um lugar tranquilo para se viver, sem o estresse típico das cidades grandes.
Porém, ao entrar em Juruaia, algo estranho aos olhos do visitante neófito. Ao invés das casas baixas e simples, vitrines se sobressaem e mostram moda íntima. Ao todo, 160 lojas compõem esse cenário. Umas maiores, outras pequenas. Não importa, tomam conta de toda a cidade com uma profusão de ofertas, cores e modelos. Caso o visitante seja curioso e procure por mais dados sobre a cidade, vai se surpreender: 95% das confecções são comandadas por mulheres, 580 mil/peças produzidas por mês (corresponde a 15% de toda lingerie produzida no País), 90 mil pessoas visitam a cidade por ano, o PIB cresce 30% ao ano, é o primeiro polo mineiro de moda íntima e o terceiro do País. Ufa!
Como uma cidade tão pequena conseguiu essa façanha? Tudo começou no início dos anos 1990. Um cidadão de Goiás foi parar na cidade e, com a ajuda da prefeitura, montou a primeira confecção de lingerie. Essa empresa não deu certo, mas como qualificou algumas pessoas, elas resolveram continuar a fabricar calcinhas. Rosana Marques, uma professora primária, foi contagiada com a perspectiva de mudanças (afinal, naquele período a cidade passava por dificuldades por conta da crise do café), abandonou a sala de aula, contratou duas costureiras e fundou a Ouseuse Lingerie. Em pouco mais de 18 anos de existência, a Ouseuse hoje possui 80 funcionários diretos e outros 100 indiretos; produz 70 mil peças/mês e o showroom da marca possui 800 m².
Mas Rosana foi além e sempre trabalhou em prol da cidade. “Sempre tive em mente que poucas empresas de moda íntima em Juruaia não seriam o suficiente para que as pessoas pudessem vir até a cidade para comprar. Era necessário que, cada vez mais, a população pudesse se enveredar pelo empreendedorismo e arriscar em um negócio próprio, mas sempre voltado, direta ou indiretamente, com moda íntima”, explica a empresária. Nos últimos 18 anos, além de administrar sua empresa, sempre incentivou colaboradores e amigos a abrirem seus próprios negócios. A ideia que sempre a permeou rendeu frutos. E muitos bons frutos, pois afinal, Juruaia tornou-se, graças à persistência e incentivo da empresária, no polo mineiro de moda íntima. Ver a cidade cheia de visitantes, comerciantes, representantes e consultores é uma realidade.
O histórico de Rosana Marques junto à Juruaia, ajudando-a a transformar economicamente em uma cidade referência, atraiu a atenção da equipe da Revista Claudia (Ed. Abril) responsável pelo Prêmio anualmente concedido às mulheres que fazem diferença junto à sociedade. Rosana Marques, entre 50 pessoas (categoria Negócios) foi escolhida para a final, juntamente com mais duas mulheres de destaque. “Está sendo uma honra muito grande estar nesta final, pois é um prêmio nacional, vindo de uma revista imensamente respeitada em todo o País. Só de estar entre as três finalistas já é uma grande vitória. É o reconhecimento por todos esses anos de trabalho em prol de Juruaia. Fico muito feliz, não só por mim, mas pela cidade, que vai conseguir mais visibilidade com esse prêmio”, diz Marques.
Sem medo de concorrentes, Rosana sempre teve a premissa de mudar a história das pessoas que estavam ao seu redor. “Se eu tive sucesso nessa empreitada, porque os outros também não podem? Sempre incentivei e sempre vou incentivar quem deseja ter seu próprio negócio. É assim que Juruaia se desenvolveu: não por causa de uma só pessoa, mas da coragem coletiva de transformar a sua história”, afirma Marques.
Prêmio Cláudia
O Prêmio Claudia é a maior premiação feminina da América Latina que tem como objetivo descobrir e destacar mulheres competentes, talentosas, inovadoras e empenhadas em construir um Brasil melhor. Desde 1996, com coragem e ousadia, as mulheres finalistas do Prêmio provam que é possível encontrar soluções para os mais variados problemas da sociedade. Em 16 anos de existência, o evento já selecionou mulheres de todos os estados brasileiros. Elas servem de inspiração, transmitem perseverança e amor ao próximo, valorizam a contribuição da mulher para uma sociedade mais justa, mais solidária, mais feliz.